Ao encontrar esta oportunidade, oferecida pelo ator Severino Florêncio, de trespassar a história de António na VISITA para o Nordeste, me senti reencontrando os caminhos dessa desertificação numa geografia humana, social, política e económica que também é preciso que seja mais uma vez denunciada. Sendo frutos de uma mesma identidade, sofremos os mesmos males. Esta história não pertence apenas a terra dos esquecidos em Portugal ou na Espanha, é de todos os povos que são abandonados e esquecidos, desertificados de gentes e almas, secados no abandono na essência das suas histórias, das suas falas, das suas memórias, dos seus cantares, dos seus sonhos das suas identidades.
A desertificação no Nordeste acontece todos os dias. Muitos foram os retirantes, cantados e contados nas proesias da literatura brasileira, tantos que parecem ter retirado todos. Mais de 40 anos de mortes vidas severinas passaram, deuses e diabos secaram nas terras do sol e o sertão ainda não virou mar. Aos poucos fomos esquecendo de quem éramos, onde vivíamos, de onde viemos, os sonhos que um dia sonhamos e até das promessas que fizemos sob o luar do sertão, acabamos por esquecer tudo, como se tudo pertencesse a um distante passado ... A perda da identidade será o mal maior dessa desertificação e é por isso que necessitamos recriar os Antónios para que fiquem, voltem e nos falem das memórias que são a essência daquilo que ainda podemos voltar a ser.
Acredito que este texto, agora definitivamente transposto para o Nordestinez, ganhará sentidos e significados renovados e poderá contribuir para que todos um dia, ainda possamos retomar a Visita que obrigatoriamente temos que fazer.
Moncho Rodriguez